Bancários são o grupo com maior aumento do desemprego -
(Economia - Sol)
Encontrar um bancário num centro de emprego ou com dívidas em atraso não era comum em Portugal.
A profissão sempre esteve associada a algum estatuto salarial e a uma prolongada estabilidade no emprego, muitas vezes com carreiras de vida. Esses tempos já lá vão.
O fecho de balcões e a redução de postos de trabalho têm sido medidas transversais a todo o sistema financeiro nos últimos anos. Com o número crescente de empresas e famílias que deixam de pagar os empréstimos contraídos, há uma queda de resultados dos bancos.
As instituições tentam compensar essas perdas com cortes nas despesas operacionais e o sector tem vindo a eliminar postos de trabalho desde o início da crise financeira.
Segundo o Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), existem hoje mais de 4,3 mil bancários e profissionais de seguros desempregados à procura de novas oportunidades de trabalho.
Mais incumprimento
E os problemas da banca podem agravar-se. Segundo um relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgado esta semana, os bancos portugueses _poderão enfrentar perdas adicionais de oito mil milhões de euros nos próximos dois anos devido ao crédito malparado, sobretudo de empresas que deixaram de pagar os empréstimos.
“Alguns bancos nas economias sob stress podem ter a necessidade de aumentar as provisões para fazer face à potencial deterioração da qualidade dos seus activos, o que poderia absorver uma larga porção dos lucros futuros”, refere o relatório.
O FMI considera que houve um bolha de crédito imobiliário em Portugal, tal como em Espanha, e que 75% dos empréstimos foram parar a empresas excessivamente endividadas, que terão dificuldades em devolver o dinheiro.
O valor das perdas potenciais com o malparado equivale a 5% do PIB português e é até superior à verba que resta da linha que a troika criou para ajudar os bancos, ao abrigo do programa de assistência.
Existem 6,4 mil milhões de euros para capitalizar instituições em dificuldades.
Embora o FMI admita que os bancos têm margem nos resultados operacionais para compensar as perdas previstas, isso implicaria “medidas adicionais, como cortes nos custos operacionais e reduções nos dividendos”.
Caso o cenário antecipado pelo FMI se concretize, alguns dos principais bancos teriam assim de reforçar as reduções de pessoal e de balcões.
Há quatro instituições em Portugal com processos de reestruturação acordados com a Comissão Europeia, por terem sido ajudados por fundos públicos: BCP, BPI, Caixa Geral de Depósitos e Banif (este último ainda a aguardar uma decisão sobre as medidas a tomar).
BCP é o caso mais bicudo
Até agora, o caso do BCP é o mais bicudo.
Comprometeu-se com uma redução de 25% nos custos com pessoal e o corte soma-se às rescisões de 900 trabalhadores que já foram concretizadas.
A medida será concretizada através de novas rescisões e de uma redução salarial a negociar com sindicatos e comissão de trabalhadores, um processo que se avizinha difícil.
“Não será fácil conciliar a intenção da administração com a legislação, que é restritiva nas reduções salariais.
Será um processo moroso e nem sequer é certo que haja o nosso acordo”, diz ao SOL Paulo Alexandre, coordenador da Febase, a federação sindical do sector bancário.
O dirigente considera que contrapartidas como uma redução do horário de trabalho ou o aumento de dias de férias terão de estar em cima da mesa nas negociações, até para efeitos legais.
Para já, pouco se sabe sobre a dimensão do corte salarial e não há ainda reuniões marcadas entre a administração e os representantes dos trabalhadores.
As informações que chegam aos funcionários apontam para reduções progressivas até 10%, com salvaguarda dos salários abaixo de um determinado montante, mas quer a Febase quer a administração não confirmam este valor.
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